domingo, 5 de janeiro de 2014
Impressões digitais
Diz-me quem sentiu o coração a rasgar-se milhares de vezes, só porque durante tanto tempo acreditou em almas siamesas, que a complementaridade não é mandatária, que na diferença também se encontra a união. Diz-me quem aprendeu porque deu o peito às balas, porque é catedrático nas dores do coração, que há outras formas de amor mais calmas, menos pungentemente egoístas. Recuso-me a acreditar que o sentimento supremo possa tomar uma forma diferente desta que me atinge. Ainda que todo o espaço que o meu olhar consegue alcançar me prove que estou errada, não desisto da fórmula que construí, e não há quem me convença que existe outra diversa. Tal como as botas alheias não cabem nos meus pés, também o amor de outros seria incapaz de me servir, de me consolar corpo e alma. Necessito desta fogueira para onde a ideia da nossa existência simétrica me atira. Não consigo viver senão embrulhada nas labaredas da tua imagem, que me consomem desde o acordar até ao adormecer, e que reacendem, todas as noites, durante o sono quando, sem aviso ou convite, me invades e equilibras o universo onírico. Sou avessa à tepidez, à moderação, ao comedimento. Sou uma criatura de extremos, de tudo ou nada, de excessos. Não sei senão existir no borboletear do estômago, no bater descompassado do músculo cardíaco, no sufoco dos alvéolos pulmonares. Não sei senão viver deste amor singular.
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