sexta-feira, 20 de julho de 2012
Mas hoje não, hoje deixo-te livre para me contares.
A poderosa capacidade de ouvir e ler nas entrelinhas provoca-me, não raras vezes, sentimentos de angústia, não tanto pelos conteúdos que me vai comunicando, mas por considerar que, mais do que uma capacidade, aquilo não passa de um conjunto de surtos psicóticos agudos que se vão apoderando do grilo falante viciado em ácidos, que comigo comunica nos momentos de silêncio absoluto. E todos sabemos que, dependendo da quantidade de psicotrópicos que ingerem, os grilos falantes podem ser criaturas altamente falaciosas. Por isso, todos os dias lhe atiro com o haloperidol embrulhado em alface fresca para dentro da gaiola, nos horários exactos, na certeza de que será esse o remédio para coartar qualquer tentativa para me influenciar. Como alternativa, e quando o fármaco não chega à gaiola por falta de forças, recorro ao disco dos Rammstein, pois já descobri que nada resulta melhor que umas horas hard rock alemão para abafar todo e qualquer som que o animal possa querer soltar.
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