sábado, 31 de julho de 2010

Até já

O som das memórias


(quando se abre o que deveria estar fechado)

Aparecido

Ele tentou sempre ser um mistério. E por isso, apesar de ela conhecer muito dele, nunca o conheceu totalmente. Ele fazia questão que assim fosse. Certamente considerava que o jogo das escondidas a que brincavam seria o elixir da eterna juventude. E foi tendo alguma razão, porque foi no dia em que ele se mostrou sem guardas, que a perdeu um bocadinho. E após esse dia, foi perdendo bocadinho a bocadinho, até não sobrar o suficiente para continuarem a jogar. E com o fim do jogo, findou-se tudo o resto.


Ele desapareceu e deixou claro que não queria ser encontrado.

Ela, com pesar, obedeceu cegamente e proibiu-se de pegar no telefone para lhe ligar.

Nunca o esqueceu, porque ele é inesquecível. Nunca o esqueceu, porque tem uma memória de elefante. Mas guardou-o no baú das “boas recordações que fazem doer e que não devem ser desencerradas”. Tirava-o muito de longe a longe, matava as saudades e rapidamente o arrumava de novo e voltava a vida real.

Ontem ele regressou. De mansinho. Com apenas duas palavras. As duas únicas palavras que ele sabe que não poderia dizer. As duas únicas palavras que a fariam estremecer e reviver tudo de novo. As duas únicas palavras que poderiam reiniciar o jogo.

E agora? Ela não consegue decidir se deve abrir um fresta do baú para poder espreitar para dentro e ver o que acontece, ou se deve colocar-lhe um cadeado mais forte, para que nada possa de lá sair.

Piiiiiiiiiiiiiiiii!


(tento sobrepor o piiiiii a uma quantidade de outras palavras menos onomatopeicas que me percorrem a mente neste exacto momento)

domingo, 25 de julho de 2010

O escolhido


Durante anos nunca respondeste às minhas carícias. Bastava que me aproximasse de ti, e imediatamente davas meia volta e desaparecias. Se tentasse dar-te colo, fazer-te uma festa, tiravas as unhas para fora e defendias-te como se de um ataque armado se tratasse. E eu, face a tal atitude, desisti de te mimar e decidi ignorar-te.


E agora, de repente, tudo isso te passou. Guardaste de vez as unhas. Passeias-te numa pose sedutora, andando sempre pelos locais onde estou, quase que a perseguir-me e tentando a todo o custo chamar-me a atenção. Insinuaste-te para que te passe a mão pelo pêlo. Pedes descaradamente mimos e se não os faço, mordes-me ao de leve, e com a pata puxas-me a mão para ti.

És realmente um macho. Se alguém, alguma vez tivesse dúvidas, bastava ler isto, para acabar com elas num instante.

Quem? Eu?

-Sim. Tu.






(É necessário explicar melhor, ou já percebeste que és mesmo tu.)

sábado, 24 de julho de 2010

Nonsense

Hoje, logo de manhã cedinho, meti-me numa Rave com o alto patrocínio do SNS. O DJ batia qualquer Frank Morel. O ambiente era fraco. Só dava mulheres. A coisa era para durar meia hora, mas acabou por prolongar-se graças ao creme reparador das pontas do cabelo. E só por isso, tive direito a mais 15 minutos de curtição.
Pena, mas mesmo pena, foi ter-me esquecido de levar uma pastilhita.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

domingo, 18 de julho de 2010

Fui

-Estás muito calada!
-Estou?
-Estás. Nem pareces tu, aqui, à minha frente.
-Mas sou. Eu. A mesma de sempre.
-Porque estás assim? Em silêncio?
-Porque não me apetece falar.
-Pareces-me desconfortável. Actuas como se não estivesses bem aqui. Como se algo te incomodasse.
-Não. Nada me incomoda. Nada para além de mim própria. Sou eu quem me perturba, quem me faz sentir desajustada, inadaptada a este local, a este dia, a esta hora. Sou eu quem sente que se transformou na gota de água que transborda o copo, no grão de areia que sobra na garrafa-quadro. Sou eu quem vai, para não sentir o peso de ficar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eclectismo

A noite de hoje poderá raiar a perfeição. Para isso será necessário que os astros se conjuguem e ordenem à Marguerite e ao Konstandinos que acabem com a conversa um pedacinho mais cedo, e ao Brian que se arme em prima donna e fique amuado durante meia hora. E pronto. Esta mulher será feliz.  Por esta noite.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O silêncio no ruído

Hoje não, não quero falar.
Hoje não, não quero gastar as palavras com interlocuores surdos.
Hoje, expresso-me através de ruídos sem sentido, transformando em silêncio a voragem do pensamento.
Hoje expresso-me através de ruídos sem sentido, porque não sei expressar-me assim...


(Hoje, se soubesse, era assim que falava.)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mais valia ficarem quietos

Fazem-lhe voar a auto-estima até aos confins do céu.
Mas esquecem-se que, das duas uma, ou ela continua a subir até bater em algo, ou a gravidade vai fazê-la cair a pique.
Em qualquer dos casos haverá feridos

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Calor

Hoje, o inferno entrou pela minha cidade adentro sem pedir autorização ou sequer fazer-se anunciar. O reino de Neptuno foi o local de eleição para se escapar ao sofrimento.

domingo, 4 de julho de 2010

A bisturi,


disseco as tuas palavras, percorrendo cada letra à lupa.
Procuro a confirmação, ou apenas um sinal.
Serei única?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Lisboa

(Lisboa às tuas costas, Lisboa dentro de casa)