Ele tentou sempre ser um mistério. E por isso, apesar de ela conhecer muito dele, nunca o conheceu totalmente. Ele fazia questão que assim fosse. Certamente considerava que o jogo das escondidas a que brincavam seria o elixir da eterna juventude. E foi tendo alguma razão, porque foi no dia em que ele se mostrou sem guardas, que a perdeu um bocadinho. E após esse dia, foi perdendo bocadinho a bocadinho, até não sobrar o suficiente para continuarem a jogar. E com o fim do jogo, findou-se tudo o resto.
Ele desapareceu e deixou claro que não queria ser encontrado.
Ela, com pesar, obedeceu cegamente e proibiu-se de pegar no telefone para lhe ligar.
Nunca o esqueceu, porque ele é inesquecível. Nunca o esqueceu, porque tem uma memória de elefante. Mas guardou-o no baú das “boas recordações que fazem doer e que não devem ser desencerradas”. Tirava-o muito de longe a longe, matava as saudades e rapidamente o arrumava de novo e voltava a vida real.
Ontem ele regressou. De mansinho. Com apenas duas palavras. As duas únicas palavras que ele sabe que não poderia dizer. As duas únicas palavras que a fariam estremecer e reviver tudo de novo. As duas únicas palavras que poderiam reiniciar o jogo.
E agora? Ela não consegue decidir se deve abrir um fresta do baú para poder espreitar para dentro e ver o que acontece, ou se deve colocar-lhe um cadeado mais forte, para que nada possa de lá sair.
Corre com o gajo!
ResponderEliminarViagens ao fundo do baú deixam sempre o cheiro a mofo entranhado na pele.
ResponderEliminarAbra o Baú por completo, e deixe sair o que lhe vai na alma ))
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