À terceira é de vez. Sim, porque esta já é a terceira tentativa que faço para escrever este post. E hoje, depois de ter lido um texto escrito pelo João Tordo no seu blog, decidi que tinha mesmo que acabar isto.
Considero-me uma rapariga com uma educação cultural acima da média. Concluí uma licenciatura em ciências sociais, que me conferiu alguma bagagem intelectual e capacidade e abertura para aprender. Sempre que posso vou ao cinema, ao teatro, a exposições e concertos e sou uma leitora assídua e uma compradora de livros compulsiva. Não posso dizer que tenha um conhecimento enciclopédico sobre cultura e arte, mas penso que vou tendo contacto com alguns exemplares de qualidade, no que concerne à literatura, à música, ao teatro, ao cinema e às belas artes. Tudo isto que acabei de escrever pode ser comprovado pelas pessoas que privam comigo e que não têm qualquer pejo em esvaziar a biblioteca, a cinemateca e a discoteca cá de casa.
Pois bem. Esta imagem de rapariga culta, a raiar o intelectual, que fui construindo ao longo dos anos, foi deitada por terra, um destes dias, quando confessei a um amigo que gosto de filmes de pancada e cheios de explosões, como por exemplo o "Triple X" ou o "Nascer para morrer". Foi o escândalo. O rapaz não conseguia compreender como era possível que eu gostasse desse tipo de filmes que, segundo ele, têm uma história completamente previsível e não deixam margem para que qualquer neurónio trabalhe, enquanto passam no ecrã. E acrescentou "Desiludiste-me muito". Eu ainda tentei explicar-lhe que também gosto de filmes com outras características, mas não foi possível, tal era o desgosto pelo qual o rapaz estava a passar. Desisti.
Passados uns dias, voltei a cometer um acto bárbaro de violência psicológica com um outro amigo. Conversávamos, expondo os nossos gostos acerca da musica anglo-saxónica. Estavam na mesa nomes como Nick Cave, David Bowie, Bauhaus, Artic Monkeys, Radiohead... No meio da conversa, o meu amigo elogiou o meu bom gosto musical. Foi então que eu resolvi dizer-lhe que também gostava de outras coisas, como por exemplo George Michael ou Paulo Gonzo. Referi mesmo que, quanto a este ultimo, não há música que eu não conheça de cor e não acompanhe cantando entusiasticamente, seja em que local for. É algo a que não consigo resistir. Gosto mesmo dos “Jardins Proibidos”, vibro com o “Sei-te de cor”. Escândalo total, de novo. Como é possível? Uma rapariga com tão bom gosto. Só lhe faltou a célebre frase do Diácono Remédios. "Não havia necessidade!". Ainda pensei em explicar-lhe, mas desisti de novo.
E então, depois desta segunda situação, compreendi que tenho duas possibilidades. Ou mantenho em segredo estes meus gostos e vou ao cinema às escondidas e fecho a sete chaves alguns Cd's, ou então vou inevitavelmente ser rotulada de parola. Isto porque me parece que é difícil para a sociedade compreender, que, se há alturas na nossa vida em que sentimos necessidade de estar perante desafios cognitivos, de aprender coisas novas e de estímulos que nos façam desenvolver e ir mais além, há outras alturas, em que queremos apenas que nos façam rir, que nos aqueçam o coração, ou simplesmente que nos façam passar o tempo sem que isso implique grande esforço cognitivo ou emocional. E não é por isso que deixamos de ser inteligentes ou passamos a ser seres menores.
Mas para que isso possa acontecer, é preciso que existam pessoas capazes de fazer músicas, filmes, livros,… que cumpram ambos os propósitos. E essas pessoas e a sua obra, não serão maiores ou menores porque nos fazem pensar ou nos fazem rir e relaxar. Serão apenas pessoas e obras diferentes.
(e este post dedico-o ao meu amigo DD e às suas leituras, que nos mantêm as discussões acesas, noite adentro)
segui o link do blog do joão. e parece-me que não estás a falar da mesma coisa. ou melhor, és capaz de estar, mas não do 'valor' da obra, um juízo que faças, mas antes o modo como a 'recepcionas'. são coisas diversas. coisas da vida urbana. muito mais do que da rústica.
ResponderEliminarj
João. Tens razão no que referes. No entanto, na leitura que fiz do texto do outro João saltou-me à vista a questão do preconceito face a algumas expressões artisitcas, por não seguirem os cânones estabelecidos por alguns iluminados. E tudo o resto não presta e quem gosta é parolo ou limitado. Foi nessa questão que tentei pegar. Se calhar, não consegui expressar devidamente o que me ia na mente. Defeito de quem escreve para o seu próprio umbigo. :-)
ResponderEliminarGostei dos teus blogs. Vou ficar atenta.
há piores partes para escrever que o umbigo. penso.
ResponderEliminarj
http://www.youtube.com/watch?v=8s3TJuGNiJ4
ResponderEliminarAdoro esta música. E não estou a brincar! Além de gostar, eu acho que é uma grande canção!
Continuo a falar sério.
Beijiocas
... e das Doce. Gosto das Doce.
ResponderEliminarLúcia,
ResponderEliminarDepois do meu post e dos teus comentários, o nosso amigo DD nunca mais nos vai deixar em paz.
:-)
Olha a sorte dele ;)
ResponderEliminarHá uns anos... MAs agora, serenamente, não me preocupa nada o que lês, vês, ouves. Por um lado, porque sei que tens uma abrangência enorme a amanhã já esqueceste o Tony Carreira ( picadinha... ). Por outro lado, cada vez me convenço mais que a componente "cultural" de cada individuo não têm assim tanta importância. Mas não é nada fácil explicar isto - terá mesmo de ser num futuro jantar ( ouvi falar em francesinhas em Ovar... ).
ResponderEliminarBeijos às duas,
Lúcia,
ResponderEliminarA deixa das francesinhas é para ti.
;-)
Para mim não, que não as faço! Só como!
ResponderEliminarAo som de música interessante, comeremos qualquer coisa em data breve.
:)