quarta-feira, 6 de março de 2013
Terapia de substituição
Vê-a a entrar e segue-lhe a silhueta com um olhar curioso, enquanto lhe avalia a expressão corporal. Cumprimenta-a com um sorriso e, ao contrário do habitual, não a detém, deixa-a seguir até à chávena de café que a espera ao fundo do corredor, em cima do balcão. Quando ela regressa, chama-a a propósito de um qualquer pretexto, olha-a nos olhos e pergunta-lhe se está triste. Ela desvia o olhar e, com o rosto imerso no cansaço que a insónia instalou, responde-lhe que não. Ele, a quem o tempo e a atenção desmesurada que lhe presta já permitiu que lhe decorasse as expressões, insiste: "Pareces triste." Em surdina, ela diz-lhe que é impressão sua, ordena-lhe que avise o motorista que estará pronta daí a cinco minutos e continua a caminhar sem tirar os óculos escuros que lhe escondem metade da cara. Refugia-se no seu casulo xxl e, para evitar que lhe dirijam a palavra, esconde-se atrás do ecrã excessivamente iluminado e da desculpa do trabalho amontoado. Não demoram dois minutos até que o telefone toque. Uma voz diz-lhe, em tom de conspiração: "O motorista está pronto, mas antes de saíres tens de passar aqui". Ela, apesar de conhecer o móbil do pedido, não se coíbe de perguntar porquê. Do outro lado, esclarecem-na num sussurro: "Desta vez não te posso deixar ir sem antes te secar os olhos e aconchegar o corpo entre os braços."
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