segunda-feira, 18 de abril de 2011

Proporções

As mãos dele são muito grandes.
Ela gosta de mãos assim.
Gosta de as observar, enquanto ele fuma apressadamente um cigarro ou enquanto agarra a caneta para lhe escrever um recado.
Gosta de lhe sentir os dedos compridos quando, no escuro do cinema, se entrelaçam nos seus e os cobrem, fazendo-os desaparecer.
Gosta de lhes sentir as pontas quando, na intimidade, ele lhe desenha os contornos ao de leve e com calma.
Gosta de lhe sentir as palmas poderosas de encontro ao corpo quando ele, impaciente, lhe percorre a pele com arrebatamento.
E gosta especialmente que, nos dias em que o sorriso teima em não aparecer, ou que as lágrimas lhe correm pelo rosto, ele se esqueça que é homem e escolha usar as mãos apenas para lhe alisar suavemente os fios de cabelo, penteando-os com a mesma lentidão da ternura que carrega dia atrás de dia no olhar.
Nessas alturas ela sabe que o tamanho das mãos dele é proporcional à bondade que transborda do seu íntimo.
Nessas alturas ela sente que poderia repousar naquelas mãos até ao infinito.

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