sábado, 27 de abril de 2013

De volta à realidade

Sou capaz de levar com o fisco em cima, porque me meti na economia paralela e fui comprar um alho francês e duas cebolas à mulher que vende legumes na beira da estrada e que até tem uma balança toda quitada, mas que faz as contas de cabeça e não passa recibo. Eu ainda tentei sacar do número de contribuinte, mas ela enfiou-me o saco na mão, pediu-me setenta e cinco cêntimos e mal recebeu, virou as costas para atender a outra cliente que lhe contava que vai todas as semanas ajudar a filha, e que aquilo lhe "dá cabo das mãos, que é tudo limpo com lixívia forte, mas a coitada da rapariga vai ser operada. Sabe como é, pelos filhos a gente faz tudo...". Em minha defesa acuso a "grande superfície", que estava a vender legumes colhidos há três semanas e meia ou mais e a cobrar o triplo do preço. Os legumes da mulher, disse-me entretanto a vizinha da frente, enquanto me ajudava a carregar as sacas pela escada acima, são cultivados no campo que fica atrás da banca, e são sempre muito fresquinhos. O que nos leva a constatar que isto de se viver na aldeia também tem as suas alegrias. Entretanto, salvou-se a lesma que vinha na couve [tenho cá para mim que o tipo da grande superfície também vai comprar legumes à mulher e também se balda aos impostos, ou então compra-lhe só as lemas para dar o ar de que vende coisa biológica com bichos e tudo, e justificar o facto de cobrar o triplo do preço]. Foi muito rápida a encolher os corninhos e a cabeça e conseguiu fugir à faca que se preparava para, inadvertidamente, a cortar a meio. Salvou-se e foi delicadamente depositada em cima do resto de um vegetal, no quintal do vizinho, porque no meu tenho os girassóis e não fosse dar-lhe ali a vontade de os roer e depois ter de ser assassinada e não ter servido de nada a rapidez. São sete em cada canteiro, os girassóis. Metade transplantados e a outra metade semeados, porque o senhor Fonseca conhece a atracção do gato pela terra remexida e portanto traz já alguns com uns centímetros para prevenir. E pronto, agora estou para aqui a fazer a sopa e a chorar como uma madalena à custa do alho francês da mulher, que é mesmo fresquinho e do bom, melhor que as cebolas, veja-se lá. Cá para mim, o Gaspar deve ter rogado algum tipo de praga ao povo que se furta a pagar os impostos e ajuda a enterrar ainda mais o país no buraco financeiro pelo qual ninguém é responsável. É, vai-se a ver e o choro é mesmo culpa dele...

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